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Faturamento é ego: números gigantescos nem sempre indicam saúde financeira
Crise na 123Milhas expõe vulnerabilidade comum às grandes empresas: nem sempre algarismos indicam a realidade de caixa
A suspensão e cancelamento de viagens oferecidas pela 123Milhas, passando pela criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (COM) para investigação de irregularidades, trouxe à tona a fragilidade que se oculta atrás de números gigantes e supostamente seguros.
Conforme o ranking Agências & Anunciantes, do veículo Meio & Mensagem, a empresa investiu no ano passado, mais de R$1 bilhão em espaços publicitários nacionais. O mesmo material apontava que a agência de viagens online foi a maior anunciante do Brasil no ano anterior, em 2021.
Faturamento nas alturas, propaganda em muitos canais e a afirmação de que já embarcou 15 milhões de clientes em viagens nacionais e internacionais, não foram suficientes para segurar o rojão: em 2023, a conta não fechou e a empresa fundada em 2017 anunciou que não vais mais emitir passagens com embarque previsto até dezembro. A venda de pacotes da linha “Promo”, também está suspensa.
“Verificando os dados, percebe-se que a empresa não iria conseguir se manter por muito tempo, oferecendo um número excessivo de viagens promocionais sem ter lucro ou preparação para suportar, de fato, toda essa demanda”, aponta a consultora empresarial, Sirlene Rosa. “O faturamento é ego. Muitas empresas gostam de anunciar que faturam tantos milhões de reais, mas, na verdade, quanto disso é lucro?”.
Para ela, foi determinante neste caso, algo que passa também pelas pequenas e médias empresas: a falta de gestão financeira. Essa fragilidade, afirma Sirlene, afeta os mais diversos setores, de diferentes valores em caixa.
“Prejuízo pouco é prejuízo bom. Isso precisa ficar claro para o empresário. Por exemplo, vejo empresas que não separam suas contas jurídicas e fisicas; ou investem em algo que não dá retorno. Muitas vezes é preciso tirar algo da esteira, que não está rendendo, para evitar prejuízo maior”, sublinha. “Às vezes, como no caso da 123Milhas, o rombo é tão grande, que atravessa gerações”. Sirlene é contabilista e especialista em gestão contábil e controladoria. Há duas décadas, tem auxiliado empresários a superarem desafios financeiros. Desde 2020, também é sócia da Verc, escritório localizado na região metropolitana de Curitiba.
Ainda sobre a performance da 123Milhas, a profissional resume que a empresa errou ao não entender o seu negócio. “Talvez o que ocorreu foi que a empresa não esperava a alta no preço das passagens e quando isso ocorreu, não estavam preparados”, comenta. Sirlene destaca que o erro é recorrente e pode ser fatal para empresas de menor porte. A afirmação tem fundamento. Conforme o Serasa Experian, negligenciar o planejamento estratégico está entre os pontos que levam à falência das empresas. Está na lista, ainda, a falta de análise do mercado, algo que talvez possa ter contribuído para o atual cenário da 1,2,3Milhas. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), informa que 24,4% das micro e pequenas empresas fecham em menos de dois anos. O percentual aumenta quando o prazo aumenta: em quatro anos, 50% delas fecham as portas.
“Planejar o primeiro ano da empresa e mirar seu crescimento entendendo que a economia muda, que a situação do país muda e até o perfil das pessoas mudam, é vital”, assinala a consultora.
A CONSULTORIA
Em média, o trabalho junto aos clientes duram um ano, com visitas semanais e muita mão na massa. A consultoria pode ser aplicada em qualquer momento da empresa: antes da abertura do CNPJ, durante a jornada ou em momentos de crise, ou mudanças, afirma a profissional. Com a casa em ordem, a consultoria evita também o problema do endividamento. “Uma consultoria financeira apresenta soluções eficazes para que o empresário saiba como administrar melhor os recursos”, completa Sirlene.
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